Pseudolaelia
vellozicola
(Ilustração de Hoehne) |
Introdução Este
gênero, pertencente à sub-tribo Laeliinae,
foi descrito em 1935, com base em planta coletada no morro do
Corcovado que levou o nome de Pseudolaelia corcovadensis Pôrto
& Brade. No entanto, a primeira espécie
a ser descrita foi a vellozicola como Schomburgkia por
Hoehne, em 1933. Quando Pôrto e Brade criaram o novo gênero,
esta espécie foi transferida como Pseudolaelia vellozicola (Hoehne)
Pôrto & Brade (Arquivos do Instituto
de Biologia Vegetal). Segundo Pabst (l976), o gênero é caracterizado por possuir 8 políneas, agrupadas em duas (semelhante ao gênero Laelia), pela estrutura de sua coluna, pelo hábito vegetativo da planta cujo rizoma alongado atinge 10 cm ou mais de comprimento, por seus pseudobuldos homoblásticos cobertos por bainha junto às folhas inferiores e pela inflorescência longa que varia de 50 - 80 cm. |
Pseudolaelia não é um gênero muito
conhecido apesar de possuir 12 espécies (das quais, 4 foram
descritas recentemente) e um híbrido natural também
descrito recentemente. É endêmico para o Brasil e, exceto pela presença de Pseudolaelia corcorvadensis no estado do Rio de Janeiro (incluindo a cidade do Rio de Janeiro) e Pseudolaelia vellozicola (Hoehne) Pôrto & Brade na Bahia (1), as espécies até agora conhecidas e descritas estão restritas aos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Este último estado possui 10 espécies e é seu centro de distribuição. Minas Gerais possui 8 espécies e três delas são endêmicas (Pseudolaelia cipoensis Pabst, Pseudolaelia geraensis Pabst e Pseudolaelia irwiniana Pabst). Em 1946, onze anos depois da descrição do gênero, Augusto Ruschi descreveu um novo gênero (Renata) baseado em uma planta que ele chamou de Renata canaanensis (Publ. Arq. Público Estado Espírito Santo, 1946). Mais tarde, em 1994, Fabio de Barros a transferiu para o gênero Pseudolaelia. Assim, até 1949, quando Ruschi descreveu P. dutrae, o gênero permaneceu com apenas duas espécies. Em 1966, H. G. Jones publicou um trabalho onde diz que Pseudolaelia vellozicola e corcovadensis eram, na verdade, um híbrido natural entre Schomburgkia e Encyclia. Em 1967, quer dizer, quase 20 vinte anos depois, Pabst descreveu uma nova espécie: Pseudolaelia geraensis à qual se sucederam mais três. Em 1972, H. G. Jones reafirmou sua opinião e considerou que as outras espécies eram apenas formas adicionais de uma mesma população (Taxon, Vol. 22, No. 2/3 (May, 1973), pp. 229-239). De uma maneira geral, as duas propostas não foram aceitas. Em 1973, ele descreveu mais duas espécies: P. irwiniana e P. cipoensis. Em 1976, ele descreveu Pseudolaelia citrina que foi sua última descrição para o gênero embora ele tivesse, pelo menos, duas outras plantas que ele considerava como sendo novas (veja abaixo). Em 1991, Rui J.V. Alves descreveu uma espécie (Pseudolaelia lymansmithii) com ocorrência para estado Minas Gerais (Folia Geobot. Phytotax, Praha 27:189-191 9- Kolbek J. & Alves) mas, em l994, Fabio de Barros considerou como sinônimo de Epidendrum campestre Lindl. Assim tivemos que esperar mais de 27 anos para conhecer novas espécies. Michel Frey, um estudioso francês que vinha estudando o gênero há muito tempo, começou a trazer à luz da ciência os resultados de suas interessantes descobertas: quatro novas espécies (talvez cinco) e um híbrido natural: Ele publicou Pseudolaelia brejetubensis (2003), Pseudolaelia maquijiensis (2005), Pseudolaelia pavopolitana (2005) e Pseudolaelia x perimii (Pseudolaelia brejetubensis Frey x Pseudolaelia freyi Chiron & V. P. Castro) (2005). Em 2004, Chiron & V. P. Castro haviam publicado Pseudolaelia freyi, também encontrada por Frey. Este gênero precisa de uma revisão uma vez que existem botânicos que consideram que algumas espécies estão ainda mal definidas e que, na verdade, poderiam ser sinônimos e não espécies válidas. Esperemos o trabalho que está sendo realizado por Luiz Menini Neto referente à Revisão taxonômica, análise morfométrica e filogenia do gênero sob a supervisão da Professor Drs. Rafaela Campostrini Forzza e do Prof. Dr. Cássio van den Berg.
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Distribuição geográfica, habitats, altitude e hábito vegetativo |
P & D Nº | Espécies |
Ano Descrição |
Hab |
Colorido |
Altitude |
Es |
Es |
Es |
Es |
|
01 | Pseudolaelia brejetubensis M. Frey | 2003 |
R |
Do
branco até rosa-claro. |
1100/1400 |
ES |
MG |
|||
02 | 932 | Pseudolaelia canaanensis (Ruschi) F. Barros | 1946 |
R |
Amarelo/ esverdeado |
300/1.000m |
ES |
|||
03 | 933 | Pseudolaelia cipoensis Pabst | 1973 |
E |
Púrpura |
1400m |
MG |
|||
04 | Pseudolaelia citrina Pabst | 1976 |
E |
Esverdeado
com labelo verde-limão |
1200m |
ES |
MG |
|||
05 | 934 | Pseudolaelia corcovadensis Pôrto & Brade | 1935 |
E |
Rosa-escuro |
500/700m |
ES |
MG |
RJ |
|
06 | 935 | Pseudolaelia dutrae Ruschi | 1949 |
E |
Rosa-claro |
400/700m |
ES |
MG |
||
07 | Pseudolaelia freyi Chiron & V.P. Castro | 2005 |
E |
Rosa-claro/branco |
1100/1400m |
ES |
||||
08 | 936 | Pseudolaelia geraensis Pabst | 1967 |
E |
Lilás |
ES |
MG |
|||
09 | 937 | Pseudolaelia irwiniana Pabst | 1973 |
E |
Rosa-escuro |
900m |
MG |
|||
10 | Pseudolaelia maquijiensis M. Frey | 2005 |
R |
Amarelo/ esverdeado |
700m |
ES |
||||
11 | Pseudolaelia pavopolitana M. Frey | 2005 |
R |
Amarelo/ esverdeado |
350m |
ES |
||||
12 | 938 | Pseudolaelia vellozicola (Hoehne) Pôrto & Brade | 1933 |
E |
Rosa-escuro |
desde
o nível do mar |
ES |
MG |
BA | |
13 | Pseudolaelia x perimii M. Frey | 2005 |
R |
variável |
1100/1400 |
ES |
A principal hospedeira do gênero é a Vellozia, mas algumas espécies são rupícolas. Notas: P & D Nº - Número atribuído em Orchidaceae Brasilienses - Pabst G. F.J. & F. Dungs, 1975 R = rupícola E = Epífita (1) - Inclusão do estado Bahia - Carl L. Withner - The Cattleyas and Their Relatives, Volume III e também exsicata arquivada no Herbarium Bradeanum (Maracás- Bahia - veja abaixo). (2) - Pabst G. F.J. & F. Dungs, 1975 - Orchidaceae Brasilienses - Vol 1- K. Schmersow, Hildesheim (8) - Inclusão do Espírito Santo por Luiz Carlos Perim (veja Orchid News # 30) |
Sinônimos |
Pseudolaelia
auriculata
Brieger = Pseudolaelia vellozicola (Hoehne) Porto & Brade Pseudolaelia luteola Brieger (nome inválido) = Pseudolaelia citrina Pabst Pseudolaelia lymansmithii R.J.V. Alves = Epidendrum campestre Lindl Renata canaanensis Ruschi = Pseudolaelia canaanensis (Ruschi) F. Barros Schomburgkia vellozicola Hoehne = Pseudolaelia vellozicola (Hoehne) Pôrto & Brade |
A importância do Herbarium Bradeanum no estudo do gênero Pseudolaelia, algumas exsicatas, algumas informações. |
No
estudo das espécies brasileiras de orquídeas (e,
especialmente, Pseudolaelia), é necessário
prever uma pesquisa junto ao Herbarium Bradeanum (HB). Possuindo
um acerto de 880 tipos distribuídos por 53 famílias,
o HB tem uma das mais importantes coleções da família Orchidaceae (257) correspondente a 10% do total do patrimônio
daquela instituição. Entretanto, a mais interessante
preciosidade do HB é o arquivo de Pabst, formado por 38.961
fichas que serviram de base para o livro "Orchidaceae
Brasilienses". Nelas estão registradas todas as
informações referentes aos gêneros e espécies
da família Orchidaceae que Pabst pode reunir. Tudo
foi cuidadosamente transcrito: fotocópias e trabalhos originais
sobre os gêneros como obras-principes, re-descrição,
espécies, chave de identificação, tipos,
fototipos (fotografias dos tipos) de espécies, periantos,
basinbasionyms, sinônimos, aquarelas de Samuel Salvado e
Margarete Mee, além de registrar as exsicatas arquivadas
no HB. Existem, pelo menos, 30 fichas referentes ao gênero Pseudolaelia com importantes informações
e, entre estas fichas, há uma que chama imediatamente a
atenção: pequenas flores prensadas, coletadas em
Maria Madalena, por Brade. As maiores surpresas estão na coleção de exsicatas de Pseudolaelia além do holótipo de Pseudolaelia cipoensis Pabst e Pseudolaelia citrina Pabst e o isótipo de Pseudolaelia irwiniana Pabst, há uma planta que não foi identificada e duas que, embora possuam nome (o primeiro dado por Pabst e o segundo por Toscano de Brito), não foram descritas. Não sabemos se Pabst não teve tempo para fazê-lo ou se ele não considerou como espécie válida. |
A
primeira ficha (67152) refere-se a uma espécie não
identificada, onde está escrito: "Estado do Espírito
Santo, Município de Castelo, Forno Grande, Lajão,
1.200m. Epífita sobre Velloziacea. Flor roxa. Coletada
por A. C. Brade - 19781, data: 12.V. 1949". |
A segunda (63562)
é identificada como Pseudolaelia ghillany Pabst. Loc.
Bahia - Maracás. Epífita Vellozia com flores brancas.
Coletada por Ghillany & R. Windish. 10.7.76. (não descrita) |
A terceira (70230) é identificada como Pseudolaelia
burle-marxii Toscano n sp. inedit. Loc. Brasil - Espírito
Santo, coletada por Roberto Burle Marx, floriu em cultivo em
19.1079 e determinada por Toscano em 04.08.82. (não descrita) |
Fotos e manipulação digital: Sergio Araujo |
Curiosidades |
Estudo fotográfico comparativo de espécies de Pseudolaelia encontradas em dois habitats diferentes de Guarapari - ES, feito por Luiz Carlos Perim. |
Espécie não identificada do estado do Espírito Santo |
"Embora
semelhante à Pseudolaelia vellozicola, estas plantas não
crescem em "vellozia" e têm os lobos laterais
do labelo muito diferentes dos daquela espécie. Seu habitat
está localizado a 600m de altitude em inselbergs graníticos,
entre "Vellozia" e não aceita concorrência
de nenhuma outra planta. Fica situado no município de Guarapari,
Espírito Santo a 7 km da cidade" (Luiz Carlos F. Perim) |
Pseudolaelia (Guarapari - ES). foto: Luiz Carlos Perim |
Pseudolaelia (Guarapari - ES).foto:Luiz Carlos Perim |
Cultivo |
Este gênero não é muito comum em coleções
particulares. Como orientação geral, pode-se dizer
que devem ser cultivado em clima mais ameno, quase completamente
exposto ao sol, no entanto existem espécies que precisam
de menos luminosidade. Embora a cidade do Rio de Janeiro, a nível
do mar, possuia um clima quente, Pseudolaelia corcovadensis
e Pseudolaelia vellozicola são cultivados no Jardim
Botânico, no entanto, o local é circundado pela floresta
fazendo que a temperatura caia, diariamente, durante o ano todo. |
Pseudolaelia
corcovadensis é cultivada no Jardim Botânico do Rio de Janeiro,
no exterior, exposta ao sol, sobre Vellozia de pequeno porte que
cresce em terreno arenoso (nível do mar). |
Pseudolaelia
vellozicola é cultivada no Jardim Botânico do
Rio de Janeiro sob luminosidade muito intensa, em estufa. |
Fotos e manipulações digitais: Sergio Araujo |
Bibliografia |
1)
Barros, Fábio de - Notas taxonômicas
para espécies brasileiras dos gêneros
Epidendrum e Heterotaxis (Orchidaceae) - Hoehnea
- volume 29 Este trabalho só pode ser realizado pela autorização dada por Guy Chiron (Richardiana), Herbário Bradeanum, pela ajuda e contribuição preciosas de Wladyslaw Zaslawski, Aleksandro Zaslawski, Michel Frey, Luiz Carlos F. Perim, Cláudio Nicoletti de Fraga. |
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