Vanilla Mill
Tribo: Vanilleae
Subtribo: Vanillinae
Etimologia: Espanhol:
vainilla (vagem pequena)


A publicação deste gênero foi feita pela primeira vez , seguindo o sistema de Linneus, por Miller, em seu "Gardener's Dictionary", datado de 1754, com o nome latinizado de Vanilla.

Este gênero foi descrito a partir da Vanilla mexicana Mill.

Sem dúvida nenhuma, uma grande parte das pessoas conhece a baunilha e gosta de seu aroma e sabor, mas o que nem todos têm conhecimento é que a essência natural da baunilha é extraída de uma orquídea. Até mesmo uma grande parte das pessoas que têm o hábito de preparar chocolates, sorvetes e sobremesas usando a baunilha para dar o sabor e perfume característicos não têm conhecimento deste fato.

Atualmente são conhecidas mais de 50 espécies (alguns livros citam entre 65 e 100) e as espécies mais usadas para fins comerciais são as espécies americanas (Vanilla planifolia e V. pompona) e a espécie taitiana (V. tahitensis).

A Vanilla planifolia é a principal fonte natural de baunilha. A Vanilla pompona é considerada uma fonte de qualidade inferior. Segundo Hoehne, a Vanilla trigonocarpa é também uma das melhores produtoras de baunilha.

A essência da baunilha é extraída dos frutos de algumas espécies de Vanilla (não de todas), fazendo dela a única orquídea que tem interesse comercial fora do contexto ornamental.

Elas estão dispersas nas regiões tropicais e subtropicais de todo o mundo (Indonésia, América do Sul, América Central, México e África) e esta distribuição sustenta a teoria de que seja um gênero muito antigo. Esta crença é também reforçada pelo fato de que estas orquídeas carregam um número importante de traços característicos antigos fazendo com que os estudiosos concluam que este gênero deve ter se diferenciado quando o primitivo continente dividiu-se há 120 milhões de anos. Esta dedução, baseada na teoria das placas tectônicas faz com que a origem da família orchidaceae seja situada nos primórdios do período Cretáceo (120 - 130 milhões), tendo surgido ao mesmo tempo que as outras plantas floríferas (Robert Dressler, 1981). Por estas razões, pode-se dizer que a Vanilla é uma orquídea bastante primitiva e que sua origem data provavelmente de 120 milhões de anos.

A história desta orquídea começou a ser registrada na Europa a partir da descoberta da América, mas fazia parte do dia a dia da civilização pré-colombiana. Ela é, na verdade, uma das plantas usadas desde os tempos imemoriais pelas civilizações Maia e Azteca, mas era especialmente utilizada pelos aztecas mexicanos para dar sabor e aroma a bebidas feitas a partir do cacau, uma outra de suas descobertas.

Durante a conquista do México, quando Cortez visitou a corte de Montezuma, em 1520 ou 1540, ele tomou conhecimento de que o imperador azteca só tomava uma bebida chama 'chocolatl' que lhe era servida em taças douradas com colheres de ouro ou de tartaruga. Dizia-se também que ele tomava esta bebida antes de visitar suas esposas. O sabor do 'chololatl' era acentuado pela baunilha que os astecas chamavam de tlilxochitl, que, literalmente, quer dizer flor negra, mais apropriadamente aplicável ao fruto (vagem madura).

A essência usada era obtida através da fermentação dos frutos da orquídea posteriormente chamada Vanilla.

Ao terem seu primeiro contato com a Vanilla, na costa sudeste do México, os espanhóis as chamaram de "Vainilla" (vagens pequenas) porque seus frutos alongados, contendo as sementes, lembravam-lhes as "vainas" (vagens) de certas plantas leguminosas. "Vaina" é também um diminutivo para a palavra latina vagina, significando "bainha".
Até hoje não se sabe se o botânico sueco, Olof Schwartz, pensava no formato da vagem (bainha) ou em suas propriedades ditas afrodisíacas quando ele deu o nome à orquídea de Vanilla.

No famoso Codex Badianus, publicado em 1522, que contem desenhos e textos preparados por um índio mexicano sobre o uso das plantas mexicanas, há um desenho da planta da Vanilla com o seu nome correspondente na linguagem Náhuatl (tlilxochitl). Há também uma descrição do processo (em Latim) para obtenção da essência destas e de outras flores. Esta era a primeira representação pictórica de uma orquídea do considerado Novo Mundo.

Em 1651, uma planta da Vanilla foi novamente ilustrada e descrita no trabalho de Francisco Hernández, "Rerum Medicarum Novae Hispaniae Thesaurus", um botânico anterior a Linneus.

Sua introdução na Europa, para onde foi levada por volta de 1500, foi praticamente instantânea, mas seu cultivo não prosperou. A maior parte das plantas não floresceu ou floresceu mediocremente sob as condições climáticas européias. Além da dificuldade do cultivo (ainda hoje são consideradas plantas de difícil cultivo), o inseto que faz a sua polinização não existe na Europa.

O primeiro cultivo bem sucedido só se deu em 1807 e nas décadas seguintes. Em 1819, foi levada para Caiena, na Ilha de La Réunion, uma possessão francesa, por um capitão de um navio sob forma de plântulas. Estas plântulas foram cultivadas no jardim do rei em Saint-Denis de La Réunion e logo prosperaram permitindo a distribuição a todos os plantadores da ilha. Infelizmente, não ocorreu nenhuma frutificação pois seu polinizador específico não existe naquela ilha (uma abelha do gênero Eulaema, segundo Robert Dressler).
Durante duas décadas as plantas continuaram a prosperar mas sem que se conseguisse uma cápsula sequer. Em 1837, em Liège, um botânico belga chamado Morren foi o primeiro a conseguir polinizar artificialmente a flor da Vanilla e, no ano seguinte, foi a vez do botânico francês Neumann repetir a experiência também com sucesso. Tentou-se executar o mesmo processo na ilha de La Réunion, mas não se obteve nenhum sucesso.

Em 1841, um jovem escravo de 12 anos, chamado Edmond Albius descobriu, por ele mesmo, a técnica da polinização manual. Assim, em 1848, Réunion exportou para a França cerca de 50 vagens (ou cápsulas). Devido ao grande sucesso deste cultivo, a cultura da Vanilla foi introduzida nas ilhas vizinhas (Madagascar, Comores, Santa Maria) e em 1898, cerca de 200 toneladas de vagens foram produzidas pelas colônias francesas.
A descoberta da polinização artificial e a venda de mudas permitiram o desenvolvimento do cultivo comercial da Vanilla nas regiões tropicais e, além da França, a Inglaterra e a Bélgica cultivaram esta orquídea em muitas de suas possessões coloniais.

Sua reputação afrodisíaca acompanhou-a nos diversos países onde ela foi introduzida e no início do século XVIII, na Europa, era costume aconselhar os jovens maridos a tomarem bebidas feitas com a Vanilla.
Na corte do Rei Luiz XV adotou-se o costume de ressaltar o sabor do chocolate acrescentando a baunilha e o âmbar. Diz-se que Madame Pompadour, amante de Napoleão, apreciava intensamente este costume.
Até o fim do século XVI, a Vanilla fazia parte integrante da farmacopéia européia onde era utilizada para tratar febres, histeria, melancolia e outros males por suas (pretensas) qualidades diuréticas, afrodisíacas, antipiréticas, calmante e purificante.

A medicina primitiva das ilhas de La Réunion e Madagascar ainda hoje faz uso dela. Embora seja atualmente muito usada como um agente para dar sabor às bebidas, doces e sorvetes, ninguém mais acredita seriamente em sua reputação como afrodisíaca.

No final do século XIX, o princípio ativo da baunilha foi identificado e produzido artificialmente e a extração natural do princípio ativo foi substituída em muitos casos pela produção artificial. No entanto, sendo o produto natural o resultado de uma combinação complexa de muitas substâncias, tem uma qualidade nitidamente superior e, por esta razão, estas plantas continuam a ser cultivadas em alguns países tropicais. A maior parte da produção comercializada vem do México e das Ilhas de Madagascar e Comore e na falta de seus polinizadores naturais (insetos existentes em seu habitat de origem), a Vanilla precisa ser polinizada manualmente.

Enquanto que em Madagascar as florestas são cortadas para expandir o cultivo destas plantas, as florestas do México são destruídas pelos agricultores, reduzindo desta maneira a fonte do gene natural que, ao ser cruzado com a Vanilla cultivada, poderia aprimorar a produção e aumentar a resistência às pestes e doenças.

Estas plantas parecem cipós e são as orquídeas mais longas atingindo 30 metros ou mais de comprimento. São planta terrestres ou humícolas e facilmente reconhecidas pelo seu hábito monopodial de trepadeira com raízes adventícias e flores relativamente grandes. Com exceção de uma espécie, todas são escandentes. Devido a este tipo de crescimento, todas as espécies precisam de um suporte onde seu caule possa se agarrar, como elas fazem na natureza ao aderir suas raízes às árvores. Quando elevadas, elas deixam seus ramos pendentes e assim florescem.
Elas não possuem pseudobulbo e suas folhas, mais ou menos suculentas, coriáceas, verde-escuros, são alternadas, algumas vezes reduzida simplesmente a vestígios e ocasionalmente ausentes. Opostas às folhas, em cada nó, nascem uma ou mais raízes aéreas, razoavelmente grossas. As flores, com bastante substância e razoavelmente grandes, são produzidas a partir das axilas das folhas ou dos vestígios delas. Elas podem ser muitas ou poucas, nascendo de rácimos muito pequenos que por sua vez produzem poucas flores. São flores vistosas mas, em quase todas as espécies, são de curta duração e produzidas em sucessão. As pétalas e sépalas são livres e iguais. O labelo é unido na base a uma coluna longa e estreita encoberta. Em todas as espécies o pólen é macio e farinhento e não é divido em políneas distintas. Suas sementes são muito diferentes das sementes das outras orquídeas, elas tem uma um tegumento (epiderme) muito duro e opaca e é externamente desenhada (esculpida).

Existem dois tipos de Vanilla, as de caules espessos e folhas carnosas, que são boas produtoras de baunilha e as que tem os caules mais finos, com folhas mais largas, as favas não são carnosas e não são boas produtoras de baunilha. O fruto é uma cápsula alongada (chamada de vagem) e constitui seu verdadeiro valor econômico pois é justamente dele que se extrai baunilha. Estas vagens precisam de uma longa preparação para desenvolver seu sabor e perfume característicos.

Para se obter a vanilina, o princípio ativo da baunilha, suas vagens precisam passar por um processo bastante longo, primeiro devem ficar amadurecendo durante muitos meses antes de serem colhidas. O processo propriamente dito para ressaltar o seu perfume envolve muitas manipulações: calor inicial, secagem ao sol, ser curada na sombra, seleção e empacotamento.

A título de curiosidade, uma antiga maneira de se obter a vanilina: As vagens são curadas mergulhando-as em água quase fervendo por 25 segundos. Depois são colocadas entre tecidos para absorção da umidade e colocadas ao sol para secar. Elas são então enroladas em outro tecido e colocadas em uma caixa fechada, retiradas todos os dias e espalhadas ao sol por uma ou duas horas. Este processo prossegue por 2 ou 3 semanas até que se tornem escuras e macias.

Ainda hoje seu cultivo é considerado difícil. São plantas que precisam de luminosidade intensa, umidade constante e freqüentes doses de fertilizantes. A rega deve ser regularmente mantida durante o ano todo, não havendo período de repouso muito marcado. Em razão de seu hábito de trepadeira, precisa de muito espaço para se expandir e precisa de um suporte para se agarrar. Pode-se usar uma treliça ou uma grade para facilitar o acesso à flor já que a polinização será manual. A maior parte das espécies vegeta bem quando suas raízes basais são colocadas num substrato com um eficiente sistema de drenagem mas, em razão da grande quantidade de raízes aéreas, o recipiente onde ela será instalada deverá ser pequeno. Ao seu substrato (do tipo terrestre) pode-se acrescentar terra arenosa e detritos vegetais.

Uma grande dificuldade no seu cultivo destinado à obtenção da vanilina é justamente a necessidade de se fazer a polinização manual principalmente por causa da curta duração de suas flores fazendo com que esta polinização tenha que ser feita dentro de um período muito curto, até mesmo de horas.


baunilha (desenho)




Endêmica para a África tropical.
Seu caule tem o diâmetro aproximado de 2 a 3cm, é cilíndrico e a distância entre os nós é de aproximadamente 15 cm de comprimento. Suas folhas são elípticas, surge uma em cada nó e elas têm aproximadamente 15 cm de comprimento e 8 cm de largura. Sua inflorescência é apical, com muitas flores bastante vistosas e atingem 10 cm de diâmetro.. Seu colorido vai do verde ao púrpura e como as espécies deste gênero abrem sucessivamente, com uma duração máxima de 2 dias. A mesma inflorescência pode produzir flores por muitos anos e torna-se cada vez maior. Florescem durante o verão. É uma das espécies mais fáceis de cultivar embora não tenha interessa do ponto de vista da obtenção da baunilha.


Encontrada na Flórida, as flores tem 7 cm de diâmetro.



Possui folhas ovais largas, sépalas e pétalas relativamente largas. As sépalas e pétala são esverdeadas enquanto o labelo é branco com calos amarelos.


Tem folhas largas e as flores são esverdeadas. É encontrada desde a América Central até a Bolívia.


Espécie bastante vistosa, é encontrada na Flórida, Índias Ocidentais e Trinidad -Tobago. Em cultivo, floresce de dezembro a julho. As sépalas e pétalas são verde pálido, o labelo é creme e branco com veios amarelos.



Espécie bastante vistosa, originariamente encontrada nas Índias Ocidentais e na América Central (endêmica para os trópicos do chamado Mundo Novo) é agora cultivada em toda região tropical como fonte da essência da baunilha. Floresce praticamente o ano todo mas sobretudo de janeiro a maio. As flores vão do verde pálido até o amarelo esverdeado, o labelo um o lóbulo terminal truncado. As folhas são elípticas, suculentas e verde-escuros. As flores que aparecem em curtos rácimos têm aproximadamente 10cm de diâmetro


Também é uma espécie bem vistosa e é encontrada nas Índias Ocidentais, do México até a Bolívia e no Brasil. Floresce de janeiro a maio. Suas flores são amarelo-esverdeadas e o labelo vai do branco até o amarelo alaranjado. Suas folhas são largas e ovais.

A Colômbia possui, aproximadamente, 10 espécies e entre elas, a Vanilla mexicana, V. odorata, V. planifolia, V.pompona e outras.


Segundo Guido Pabst & Dungs, as espécies nativas do Brasil são as seguintes:



- Sépalas de margem lisa, labelo no ápice com crista ou papiloso.

V. cristagalli Hoehne (Amazonas)

V. cristato-callosa Hoehne (Amazonas)

V. dubia Hoehne (Rio de Janeiro)

V. ensifolia Rolfe (Mato Grosso)

V. pusura Rodr. Jr (Amazonas, Pará) (É também nativa do Suriname)

V. ribeiroi Hoehne (Mato Grosso)

V. schwackearana Hoehne (Minas Gerais)

V. uncinata Huber (Amazonas e Pará)





- Sépalas de margem lisa, labelo glabro ou só carenado.

V. bahiana Hoehne (Pará, Pernambuco , Bahia)

V. bicolor (Amazonas) (Também nativa das Guianas)

V. chamissonis (Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Distrito Federal)

V. denticulata Pabst (Pernambuco)

V. eggersii Rolfe (Mato Grosso)

V. gardneri Rolfe (Pará, Piauí, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais)

V. lindmaniana Krzl (Mato Grosso)

V. palmurum
Lindl. (Pará, Bahia, Paraná, Mato Grosso) (Também nativa da Bolívia e Suriname)

V. planifolia andr. (Amapá, Pará, Rio de Janeiro) (Também nativa das Guianas, Venezuela, Colômbia, América Central)

V. pompona Schiede (Amapá, Paraíba, Pernambuco, Minas Gerais, Mato Grosso) Também nativa das Guianas, Venezuela, Colômbia, América Central, México, Bolívia, Argentina).

V. sprucei
Rolfe (Amazonas) (também nativa da Colômbia)

V. trigonocarpa Hoehne (Amazonas e Pará)





- Sépalas com margens fortemente onduladas

V. angustipetala Schltr. (São Paulo, Paraná) (também nativa do Paraguai)

V. aromatica Sw (Amapá, Para, Rio de Janeiro, Minas Gerais) (Também nativa das Índias Ocidentais, América Central e México)

V. bradei Schltr. (São Paulo)

V. bertoniensis Bertoni (Paraná) (também nativa do Paraguai)

V. edwallii Hoehne (Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul)

V. organensis Rolfe (Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso)

V. ovata Rolfe (Pará) (Também nativa das Guianas)

V. parvifolia Barb Rodr (São Paulo, Paraná) (Também nativa do Paraguai)

V. perexilis Bertoni (Paraná) (Também nativa do Paraguai)





- Plantas arbustivas

V. diestschian Edwll (São Paulo, Santa Catarina)






 baunilha (desenho)  baunilha (desenho)
 baunilha (desenho)  baunilha (desenho)



Bibliografia

- The Illustrated Encyclopedia of Orchids, editada por Alec Pridgeon.
- Native Colombian Orchids (Colombian Orchid Society), de Pedro Ortiz V.
- Orchidaceae Brasiliensis, de Guido Pabst and Dungs
- Orchids Care and Cultivation, de Gérald Leroy-Terquem & Jean Parisot.
- Simon & Schuster's Guide to Orchids, editada por Stanley Schuler.
- Orchids of Asia, de Teoh Eng Soon.
- Orchidées, de David Menzies.
- The Magna Book of Orchids, de David Squire.
- Orquídeas, de Jack Kramer.
- Cultura das Orquídeas no Brasil, João Siegfried Decker.
- Iconographia das Orquidáceas Brasileiras, Hoehne.


Foto/Photo: Sergio Araujo